Vaidosa saudade
Luiz Pádua
Quando lá estou quero vir
Quando aqui estou quero ir
O vai e vem da saudade
É o lamento de uma vaidade
Que às vezes machuca
O coração pede
A mente padece
A razão dita ordem
O bom senso resmunga
O ego lamenta
Passa o tempo
Surgem divergências
Cessam confidências
O amor oprime o coração
27 abril 2010
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NÃO SEI QUEM SOU, que alma tenho.
ResponderExcluirQuando falo com sinceridade
não sei com que sinceridade falo.
Sou variamente outro
do que um eu que não sei se existe(se é esses outros).
Sinto crenças que não tenho.
Enlevam-me ânsias que repudio.
A minha perpétua atenção sobre mim
perpetuamente me ponta traições de alma
a um caráter que talvez eu não tenha,
nem ela julga que eu tenha.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos
que torcem para reflexões falsas
uma única anterior realidade
que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore e até a flor,
eu sinto-me vários seres.
Sinto-me viver vidas alheias,
em mim, incompletamente,
como se o meu ser participasse de todos os homens,
incompletamente de cada,
por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.
Fernando Pessoa